Crítica | Midnight Gospel (1ª Temporada)
- Fernanda Terena
- 7 de jun. de 2020
- 4 min de leitura
Atualizado: 4 de jul. de 2021

Midnight Gospel é a nova animação adulta da Netflix do criador de “Hora de Aventura”, Pendleton Ward, em parceria com o comediante Duncan Trussell.
A série animada é formada por 8 episódios de aproximadamente 20 minutos disponibilizados pela plataforma. Ela é toda num formato de “entrevista” e acompanha Clancy, um locutor de um podcast (ou espaço-cast) que visita mundos em extinção, através de seu computador, que cria diferentes avatares para que se encontre com diferentes figuras para conversar.
Apesar do cenário pós-apocalíptico da animação, os temas dos episódios são baseados em ensinamentos budistas, hinduístas, espíritas e esotéricos, mas não se engane, os temas profundos são abordados diversas vezes como metáforas e em piadas complexas, e um tanto quanto pesadas, demonstrando diversas perspectivas psicodélicas sobre a existência, a morte e os ciclos que passamos na vida.
Vale lembrar que mesmo o infantil “Hora de Aventura”, também aborda temas complexos de forma mais “inocente” voltado para o público infantojuvenil, em contraponto, temos o “Midnight Gospel” com uma narrativa gamificada e livre, abordando diversas dinâmicas sociais e o inconsciente coletivo.
O desenho possui um formato 2D com uma arte psicodélica e cores vibrantes, todos os enquadramentos possuem diversos elementos e o uso das diagonais é sempre aliado às curvas, dando sempre uma sensação de instabilidade. Isso se sustenta com o formato de construção dos diálogos que tornam todas as falas complexas e com significados, todas as falas, consequentemente, passam a se relacionar com acontecimentos no cenário, ampliando a sensação de atenção, como se não pudéssemos “perder nada” do que se passa na tela.
Há quem diga que todas as críticas sociais e à vida possa ter sido inspirada na grande produção da banda Pink Floyd, “The Wall” (1982), devido as ilustrações e a utilização de metáfora para demonstrar, através de elementos obscenos, críticas sociais. Acredito que há uma inspiração, mas Midnight Gospel não propõe revoluções e mudanças no sistema, mas incentiva o autoconhecimento e a crítica pessoal de que nós somos agentes da mudança e da forma como enxergamos o mundo.
Curiosidade: cada episódio possui uma relação direta com a “evolução dos chakras”, é possível ver no próprio poster de divulgação.
Infelizmente não podemos falar de Midnight Gospel sem abordar a jornada de autoconhecimento abordadas nas religiões orientais. Lembrando que a animação propõe a discussão e a reflexão de temas complexos de forma irônica. Vamos refletir brevemente sobre cada um dos 8 episódios desta primeira temporada:
Malditos Zumbis: Dr. Drew Pinsky Dr. Drew é um médico especialista em vícios e assume a forma de Glasses Man, um presidente americano no meio de um apocalipse zumbi. O episódio aborda as questões do uso de drogas alucinógenas, por isso, coloca em pauta os relacionamentos que temos e como a utilização de substâncias pode estimular, ou prejudicar, nossa criatividade e nossos pensamentos.
Medite como Cristo: Anne Lemott e Raghus Markus Anne Lemott é uma autora de livros de não-ficção e Raghu é um produtor musical, ambos possuem uma ligação com a espiritualidade e assumem a forma de um ser híbrido de cachorro com chifres de veado. Nesse episódio temas como a sociedade, o consumo e a iluminação são mostrados e debatidos a partir do ponto do autoconhecimento.
Vomita Sorvete?: Damien Echols Echols foi um acusado de assassinato que conseguiu provar sua inocência, neste episódio ele encarna um peixe que vive num corpo robótico e discute com Clancy sobre expressão e compreensão do todo, através da busca e do autocontrole.
Ordenando um corvo:Trudy Goodman Trudy é uma psicoterapeuta e professora de meditação que é representada por uma guerreira que busca ressucitar o namorado assassinado, o episódio fala sobre perdão, mindfulness e como devermos abordar nossa compreensão e intuição, não só com objetivo próprio, mas para orientar o próximo.
Rei das colheres: Jason Louv Jason Louv é professor de meditação e pesquisador, ele é transformado em um pássaro que fica ligado a um prisioneiro condenado a reviver o mesmo dia. O episódio foca na questão da existência e em seu significado, fala sobre tolerância, controle e empatia como formas de evolução.
Mente Superlotada: David Nichtern David é um compositor e budista que busca ensinar Clancy sobre foco e controle de sua raiva. Apesar do curto tempo de entrevista questões como crescimento, evolução e paz interior são tratados com a fluidez e conforme as reações de Clancy vão se transformando por todo o episódio.
Papo com a morte: Caitlin Doughty Caitlin é uma blogueira e agente funerária que se transforma na figura da “morte”. Todo o episódio fala de aceitação e espiritualidade, essa reflexão é feita do ponto de vista da tradição e sobre a indústria da morta nos tempos modernos.
Como eu nasci: Deneen Fendig De todos os episódios, este é o mais delicado e complexo de todos, pois, a personagem é a própria mãe de Duncan, que morreu em 2013. Todas as falas foram utilizadas a partir da entrevista que ela deu ao podcast do filho, dessa forma, o episódio condensa todos os ensinamentos dos anteriores e conclui, majestosamente, o que chamamos de “ciclo da vida”.
Nota 5 - Excelente
Texto disponível em: https://pipocamaisrefri.com.br/
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