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Artigo | Studio Ghibli: Uma nova forma de contar histórias

  • Foto do escritor: Fernanda Terena
    Fernanda Terena
  • 20 de jun. de 2021
  • 6 min de leitura

Atualizado: 4 de jul. de 2021


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O Studio Ghibli é um estúdio de animação japonês que ficou mundialmente conhecido por A Viagem de Chihiro, foi criado em 1985 por Hayao Miyazaki, Isao Takahata, Toshio Suzuki e Yasuyoshi Tokuma, tendo produzido cerca de 21 longas de animação, sendo o primeiro O Castelo no Céu (1986) e o mais recente As Memórias de Marnie (2014).


Hoje, vamos explorar a forma diferente e fantástica que o estúdio japonês criou de contar histórias a partir de uma perspectiva única, partindo do pressuposto que nós estamos habituados a consumir e viver o “estilo americano” de construção de narrativas. Por isso, vamos embarcar numa jornada de descoberta encantadora a partir de 5 princípios básicos: Narrativa, Contexto social, Detalhes, Ambientação e Impacto.


1- A Narrativa: Um olhar para os ciclos


A Narrativa é uma fuga dos padrões que estamos acostumados, em termos de construção cultural, nem precisamos dizer que ocidente e oriente possuem uma diferença de valores e crenças.


A própria fórmula clássica da jornada do herói é constantemente deturpada, apesar de seguir com a apresentação do status quo, a fase de descoberta da aventura, provocação e a realização. No entanto, a principal diferença que vemos na narrativa, além do objetivo que falaremos dele mais a frente, é o ritmo.


As narrativas americanas são normalmente aceleradas, com músicas e muita ação, geralmente se apropriando de efeitos visuais, lutas e grandes “transformações” ou “pirotecnias”. Aqui, vemos aplicado o que o próprio Miyazaki explicou durante uma entrevista com Roger Ebert, o conceito de Ma, Ma é uma palavra japonesa (間), que significa intervalo.


Nesse contexto, Ma significa vazio, ou vazio intencional, é ele que dá espaço às manifestações emocionais e à contemplação, funciona como uma pausa para que você possa apenas observar o personagem, a paisagem ou a situação. Nesse sentido, sabemos que a ciência estuda nossa concentração e que esta dura em média 10 a 18 minutos, por isso essa técnica aplicada durante uma experiência audiovisual auxilia na compreensão do roteiro e no envolvimento com a história, principalmente, ao estabelecer um vínculo real com os personagens, nos deixando acompanhar suas escolhas e seus ciclos de desenvolvimento. O ciclo é o principal objetivo dessas histórias e tem a ver com o que chamamos de “ação e reação”, um personagem sempre tem uma escolha e precisa lidar com as consequências dela no futuro, assim como isso influencia no contexto da história e nos outros personagens.


Dessa forma, a imersão se dá pelo equilíbrio, a ação está nas situações que levam a evolução da narrativa adiante e a contemplação está na conexão a partir do desenvolvimento de emoções, ambos possibilitam a criação de histórias marcantes e com ensinamentos reais.


2- O Contexto Social: A delicadeza do oriente


O contexto social, a religião e o cotidiano das pessoas é presente em todos os roteiros das animações. É interessante notar a rotina de alimentação, estudo, trabalho e obrigações dos personagens, mesmo que sejam imaginários, isso logo de início nos dá um senso de disciplina e empatia com eles. Por isso, o contexto social é intensamente presente, até mesmo porque os criadores e produtores do estúdio fazem questão de aproximar a realidade do personagem à do espectador.


A filosofia xintoísta é um elemento essencial nas histórias do Studio Ghibli, assim como a mitologia japonesa presentes na cultura local, ambas retratam a relação do homem e da natureza, onde todos os seres estão conectados, bem como o conflito é apresentado quando esse equilíbrio é deteriorado. As emoções humanas também são capazes de gerar criaturas, boas ou ruins dependendo da energia positiva ou negativa do sentimento liberado e isso está relacionado com as crenças mitológicas orientais.



Outro ponto a ser notado é a apresentação constante de guerras, tragédias, tecnologia e desastres naturais (constantes na memória do Japão) de forma extremamente delicada como pode ser visto em Ponyo que mostra uma Tsunami ou em Castelo Animado onde mostra o país em guerra. No primeiro, o desastre vem em forma de um acontecimento milagroso de um peixe que se torna uma linda garota mágica e o segundo vem acompanhado da passagem sensível abaixo:

Howl e Sophie olham para um dirigível de guerra que invade o cenário – cheio de flores e um pequeno chalé: Howl diz: ”O que essa coisa está fazendo aqui?” Sophie responde: “Nave de guerra?” Howl: “Queimará cidades e pessoas.” Sophie: “É do inimigo ou nossa?” Howl: “Que diferença faz?”

Em todos os filmes é possível notar metáforas simples e outras mais complexas sobre esse tipo de situação, também sobre questões como ambição, amor, perdas, outros sentimentos e maldades humanas que são tratados acompanhados de uma ilustração sensível e com muita delicadeza.


3- Os Detalhes: A sensibilidade na construção


A atenção aos detalhes é uma das principais características dos Studios Ghibli, cada canto da cena é bem elaborado, cada refeição ou comportamento dos personagens é pensado estrategicamente e bem desenhado, mas, principalmente, o sentimento está nos detalhes.


A relação de todos em cena e com os espaços está nos detalhes, essa sensibilidade é um diferencial e funciona como um subtexto gerando detalhamento impressionante. Nota-se que nenhum personagem é bom ou ruim em sua totalidade, é bem mais complexo, existe uma ambiguidade de caráter, as pessoas são complexas por que na vida real é assim. Pessoas erram, pessoas precisam escolher e lidar com sentimentos que às vezes são negativos. Um exemplo é a Lady Eboshi de A Princesa Mononoke, ela deseja destruir o espírito da floresta, mas ao mesmo tempo também cuida de leprosos e pessoas em necessidade.


Por essa razão, o arquétipo do herói ideal ou do protagonista é um personagem que busca o equilíbrio, evita conflitos, deseja o bem e consegue ser empático com todos. Em contraponto com as histórias ocidentais, aqui também vemos uma ausência de figuras heróicas sem falhas ou príncipes encantados sem defeitos, acontece uma quebra no padrão de beleza das mulheres e estas assumem um papel ativo em suas trajetórias.


Em resumo, o maior destaque é que a vulnerabilidade é solucionada com união, emoções positivas (bondade, compaixão e outros) e através das escolhas feitas pelo personagem que são baseadas em um caráter complexo, no qual o protagonismo não tem espaço para soluções milagrosas.


4- Ambientação: A fantasia molda o cenário


O Studio Ghibli faz animações para todas as idades e, por essa razão, a perspectiva infantil faz com que a imaginação tome conta da ambientação. A fantasia é o principal ponto de vista, é ela que molda a história independente do tema ou da complexidade.

No entanto, é essencial lembrar que a mágica aqui não vem da “fada madrinha”, nestas animações a mágica é um feito humano, baseado em suas emoções e escolhas, por isso, ela pode ter fim e pode ter consequências. É nesse contexto que mora a genialidade e amplia a faixa etária dos filmes, pois independente de quantos anos tenha o espectador, talvez ele irá aprender algo com isso. Assim como a maioria dos sentimentos explorados dentro do objetivo da obra, eles ficam implícitos à imaginação e das impressões do espectador, abrindo margem para novos significados e interpretações.


A sensação é que você está assistindo a um sonho ou a um filme que foi pensado por uma criança que sabe muito e, ainda assim, pode se surpreender não apenas com a estética, mas com a quantidade de conceitos belos e complexos apresentados.

Além disso, muitos dos filmes são baseados em livros ou possuem alguma referência neles, possibilitando uma ampliação desse universo mágico e agradando aqueles que já conheciam previamente às obras.


5- O Impacto: Um novo ponto de vista


Um novo ponto de vista? O Studio Ghibli chegou a ser chamado de “Disney Japonesa”, mas não apenas Miyazaki não gostou do apelido como também é um apelido equivocado. Os filmes do estúdio são cheios de críticas sociais, ao comportamento humano, ao consumo, aos padrões de beleza e outros temas atuais que, infelizmente, são frequentemente associados à representação da cultura da Disney.

Por isso, para aqueles que buscam um novo ponto de vista para si ou para os pequenos, grandes ensinamentos são apresentados e deixo dois que me marcaram muito nessa experiência: respeito e uma forma diferente de se conectar com as pessoas e com a natureza.


Vale lembrar que as animações são feitas à mão de forma artesanal, apesar do estúdio estar trabalhando numa em 3D, eles valorizam o processo de construção único, trabalhando significados e experiências em conjunto.


Portanto, o impacto social e pessoal pode ser enorme se você se permitir aproveitar esses momentos com produções de qualidade e com mensagens pensadas para um contexto que promove a conexão entre as pessoas e a valorização do ambiente ao nosso redor que vão além do padrão que estamos habituados.


Texto disponível em: https://pipocamaisrefri.com.br/

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