Artigo | Explorando o sucesso de "O Dilema das Redes Sociais"
- Fernanda Terena
- 11 de out. de 2020
- 5 min de leitura
Atualizado: 4 de jul. de 2021

O Dilema das Redes Sociais ou The Social Dilemma é o documentário de sucesso produzido pela Netflix que vem causando diversas discussões ao redor do mundo. Neste artigo, vamos nos aprofundar e refletir sobre alguns termos e questões levantados pela produção.
O documentário de Jeff Orlowski estreou na plataforma de streaming em janeiro de 2020 com o tema polêmico sobre “privacidade digital” e trouxe diversas autoridades no assunto para explanar essa ideia ao lado de um roteiro fictício que conta a história de Ben e sua família, mostrando os efeitos que a imersão digital causa no cotidiano deles.
O que fundamenta os argumentos do documentário são os depoimentos e explicações dos especialistas como Shosana Zuboff, Ph.D. em Psicologia e Professora em Harvard, Tim Kendall, ex-diretor de monetização do Facebook e ex-presidente do Pinterest, Jaron Lanier, cientista da computação e um dos percursores da realidade virtual, Justin Rosenstein, programador ex-engenheiro do Facebook e, principalmente, Tristan Harris, ex-designer ético no Google e co-fundador do Center for Humane Tecnhology.
* AVISO DE SPOILERS *
Todo o documentário gira em torno do primeiro questionamento de Tristan, quando ainda era funcionário no Google, ao colocar em pauta a ética por trás das decisões tomadas por um grupo de pessoas em uma sala para tornar as pessoas mais dependentes da tecnologia, que além de recolher dados que público desconhece. Ele propôs uma visão mais voltada ao ponto de vista do usuário e, inicialmente, a ideia causou uma boa repercussão na empresa, depois, ele percebeu que não havia um interesse real de mudança e é nesse ponto que o documentário inicia a discussão/ instrução do público sobre o assunto.
Para discutirmos a relevância da produção precisamos entender alguns dos termos abordados nela, o primeiro deles é o termo de “Tecnologia Persuasiva”, que basicamente é um conjunto de estratégias visuais e mecânicas projetadas para que o usuário sinta que o ambiente tecnológico é agradável e recompensável, ou seja, por meio de mecanismos intencionais o usuário é persuadido a executar ações num ambiente digital. No caso das redes sociais, isso é feito através do feed, das interações sociais, notificações e atrativos que a rede social oferece para que você passe cada vez mais tempo na plataforma.
Dessa forma, para impulsionar essa “persuasão” temos os algoritmos, mas afinal, o que são eles? Na linguagem de programação eles são uma sequencia de ações executáveis, ou seja, eles são as “instruções” que um programa segue para funcionar ou exibir alguma informação. Nas redes sociais, esses algoritmos servem para nos redirecionar o que chamamos de “conteúdo relevante” que é tudo aquilo que nos interessa, no caso do Facebook é o que “curtimos”, então os algoritmos nos mostram em nosso feed os amigos próximos, as páginas curtidas, os conteúdos que lemos por mais tempo e os anúncios que mais se aproximam do nosso perfil.
O problema de tudo isso, de acordo com o documentário, é que além de não sabermos quais dados sobre nós estão sendo coletados ou extraídos nas redes sociais, nos buscadores e outros dispositivos conectados, essas plataformas estão nos dividindo. Acredito ser esta a real intenção da obra e o cinema como veículo de comunicação tem um papel primordial na formação de opinião, bem como na disseminação de informações confiáveis ao público.
Há uma dualidade de posicionamentos que está sendo impulsionada, não estamos sendo expostos a outras opiniões, fenômenos de fake news estão aumentando e problemas partidários ao redor do mundo estão crescendo exponencialmente, isso ocasiona uma manipulação sem precedentes para os mal-intencionados. Esses produtores de conteúdos acabam fazendo uso desses mecanismos para influenciar as pessoas e impulsionar cada vez mais essas divisões e a violência, através de comentários ou até mesmo ultrapassando a barreira do mundo digital.
Essa divisão vai além da dualidade de opiniões, ela está causando afastamento social, as pessoas estão cada vez mais presas nos dispositivos, o que no inicio era uma forma de conectar, hoje, afasta. É nesse ponto que entra a ética proposta por Tristan e o papel do usuário.
Mas, por que só estamos falando disso agora? Se o documentário estreou em janeiro? Bom, a resposta é simples, a Netflix deixou que a repercussão crescer de maneira “orgânica”, sem o uso de publicidade ou esforços pagos para trazer popularidade a obra, então, nesse quesito a empresa foi muito coerente deixando que as pessoas descobrissem e recomendassem o documentário por conta própria.
Nós como usuários estamos cada vez mais dependentes das redes, dos dispositivos e da internet, porém também estamos cada vez menos dispostos em pagar por serviços que nos dispõe segurança. Afinal, quem não gosta de um serviço grátis? É sempre bom lembrar, que toda a segurança digital vai além da privacidade de dados, também estamos vulneráveis a invasões, pirataria de conteúdos e clonagem de informações confidenciais, os serviços pagos servem justamente para o pagamento de profissionais e desenvolvedores fazerem a segurança do sistema.
Esse tema, “domínio da tecnologia”, também é um velho conhecido de produções de ficção científica como Black Mirror, Jogador Nº1, Exterminador do Futuro, Blade Runner e até mesmo Os Jetsons, cada um em sua devida intensidade e gênero, mas todos falando da forma como a tecnologia vem sendo inserida em nosso cotidiano a cada dia mais. A literatura distópica também já se apropriou disso quando 1984 e Admirável Mundo Novo, de George Orwell e Aldous Huxley respectivamente, tentaram nos alertar que isso poderia ser utilizado para o domínio das massas, para a segregação e, infelizmente, para semear a ignorância disfarçando-a de prazer e felicidade.
Além disso, outro ponto a levar em consideração, é que a Netflix também é uma rede! E ela também é conhecida pela utilização de dados, justamente por isso, é importante filtrar a informação recebida. O documentário trás informações essenciais, principalmente sobre a vulnerabilidade dos jovens e a idealização por uma vida perfeita (obviamente inexistente), mas a Netflix também ganha com a repercussão da produção e com a polêmica.
Falando em repercussão, de acordo com a Decode as buscas por “Excluir Facebook” subiram em 250%, “Excluir Instagram” em 100% e 44% das pessoas gostariam de diminuir o uso das redes sociais após a estreia do documentário. Além disso, buscando a segurança e a proteção das pessoas, houve a criação da nova LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados) da legislação brasileira que entrou em vigor em setembro de 2020 e procura regular os dados das pessoas retidos pelas empresas, isso garante que você seja dono de seus dados e deverá consentir com o armazenamento, com a transferência dos seus dados, também poderá solicitar os dados que a empresa possui sobre você e a exclusão dos mesmos. Leia mais sobre LGPD clicando aqui
E agora?
A tecnologia também veio para ajudar, curar doenças, conectar aqueles que não estão próximos e nos ajudar a promover o acesso à informação, o ponto é como escolhemos utilizá-la. Disseminar ódio, optar pela ofensa, desrespeitar opiniões e ficar no celular durante os almoços de família está nos fazendo desperdiçar momentos especiais com aqueles amamos, essa é a hora de repensar nossas escolhas.
Essas agressões e a vulnerabilidade que as redes nos causam pode ser prejudicial se limitarmos nossos contatos através delas. Afinal, com o mundo globalizado e as pessoas cada vez mais conectadas, é quase impossível pedir para que todos “vivam no escuro”, porém tudo é uma questão de quantidade, todos os excessos fazem mal.
É nesse ponto que entra a grande questão do documentário, valorizar os contatos sociais reais e transmitir a informação do que as redes podem fazer conosco. É importante dosar o uso, afinal, conhecimento é a chave para não sermos persuadidos tão facilmente.
Texto disponível em: https://pipocamaisrefri.com.br/
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